O Estudo de Diagnóstico de Necessidades Docentes de 2025 a 2034, Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência (DGEEC) e do Centro de Economia da Educação da Nova SBE (Nunes et al., 2025), projeta um cenário de escassez crítica de profissionais de ensino em Portugal Continental, nos próximos anos, impulsionado pelo acentuado envelhecimento da classe docente. Estima-se que, dos cerca de 122 mil docentes ativos no ano letivo 2024/25, apenas cerca de 76 mil permaneçam em funções até 2034/35, o que representa uma redução de 37% . Esta quebra exige o recrutamento de aproximadamente 38 mil novos docentes até 2034/35, correspondendo a uma média anual de 3,8 mil novas contratações.
A escassez impacta de forma desigual os vários ciclos de ensino. Proporcionalmente, a Educação Pré-escolar enfrentará a maior perda do seu corpo docente, com uma redução projetada de 55% no número de educadores até 2034/35, justificando-se uma necessidade de recrutamento de 4 053 educadores. O 2.º ciclo do ensino básico enfrentará uma queda de 42% na oferta de docentes. Contudo, em termos absolutos, será no 3.º ciclo do ensino básico e no ensino secundário que haverá maior necessidade de recrutamento, atingindo 20 606 novos docentes até 2034/35. Em termos geográficos, as áreas metropolitanas de Lisboa (10 711) e do Porto (6 062) lideram as necessidades de contratação em valores absolutos, cumulativas até 2034/35.
O perfil envelhecido da classe docente é corroborado pelos dados do inquérito internacional Teaching and Learning International Survey (TALIS) 2024, da OCDE. Os professores portugueses no ensino secundário inferior (ISCED 2) têm, em média, 51 anos de idade, um valor significativamente superior à média da OCDE, 45 anos. Além disso, 60% dos professores em Portugal têm 50 anos ou mais, uma percentagem superior à média dos países da OCDE.
A atratividade da profissão é posta em causa pela insatisfação salarial, sendo Portugal um dos países onde menos de um em cada cinco professores está satisfeito com os seus salários. Contudo, o TALIS 2024 destaca a perceção positiva da formação contínua em Portugal, com 92% dos docentes a reportarem que as atividades de desenvolvimento profissional tiveram um impacto positivo no ensino, um valor consideravelmente mais elevado do que a média da OCDE (55%).
A mobilidade de docentes tem servido como um mecanismo de ajustamento regional, dado que 42% dos professores (com Mestrado concluído após 2013) exercem funções numa região diferente daquela onde obtiveram a sua habilitação profissional. A região Norte é destacada como um importante centro formador exportador de professores para as restantes áreas do país.
O próximo relatório Estado da Educação 2024, do CNE, dedicará uma secção à análise e reflexão desta matéria, evocando diagnósticos e recomendações emergentes destes estudos. Designadamente, discutirá as medidas estruturais e de curto prazo propostas, que passam por reforçar o recrutamento através de salários competitivos, estágios remunerados e incentivos à mobilidade regional, fortalecer a formação inicial, alinhando a oferta formativa às necessidades regionais e por grupo de recrutamento, e criando programas de reconversão profissional. No que toca às condições de trabalho, a redução da burocracia e o reforço dos programas de indução e mentoria são essenciais para a retenção dos docentes existentes e a integraçãodos novos.