Conselho Nacional de Educação

 

O centenário do nascimento do ilustre pedagogo Rui Grácio (1921, Moçambique) foi a razão de uma homenagem
dos CTT Correios de Portugal à sua figura, com a publicação de um selo na série «Vultos da História e da Cultura».

Vultos 2021 RG


O CNE associa-se à merecida homenagem a uma personalidade de reconhecidas qualidades pessoais e profissionais,
que marcou e definiu, em grande medida, a política educativa portuguesa do regime democrático iniciado com o
25 de Abril de 1974, enquanto Secretário de Estado da Orientação Pedagógica nos II, III e IV governos provisórios.

Entre as mais relevantes medidas então tomadas, destacamos o seu papel na unificação do tronco comum do ensino
até ao 9.º ano, viabilizando o alargamento da escolaridade obrigatória de seis para nove anos, disposição que viria
a ficar consagrada na Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986.

Preocupado com a necessária democratização da educação, Rui Grácio desenvolveu também a reorganização do
ensino primário em duas fases – para melhor respeitar o ritmo de aprendizagem das crianças – e a revisão curricular
desse nível (actual 1.º ciclo) através da introdução da área das Expressões e da criação de uma nova área de
Meio Físico e Social, numa linha de orientação de ligação da escola ao meio que viria a atravessar todos os
níveis de escolaridade e a própria formação de professores.

Numa outra dimensão da democratização e da Educação para a Cidadania, defendeu a gestão colegial das escolas,
a participação dos alunos e a criação de uma área curricular interdisciplinar denominada Educação Cívica Politécnica,
constituída por um tempo – uma manhã ou uma tarde – dedicado a trabalhos de projecto (com a colaboração da
equipa de docentes), que, partindo de problemas identificados pelos alunos na comunidade local e regional,
estimulavam a articulação da escola com o meio, reforçavam a sua função social e desenvolviam a educação pelo trabalho.

Também noutros domínios da sua acção pedagógica Rui Grácio pôde concretizar em diferentes épocas muitas das suas
ideias inovadoras e de colher da prática os seus ensinamentos. Por exemplo, promovendo e dirigindo cursos de
aperfeiçoamento de docentes no Sindicato Nacional dos Professores na primeira metade da década de 60 e,
mais tarde, já como governante, reformando a orientação dos estágios pedagógicos e lançando um programa
de formação em exercício a distância.

Preconizou e praticou uma pedagogia centrada no educando, nas suas características pessoais, nos seus gostos
e necessidades, que se exprimem por interesses, sem os quais não há verdadeira implicação e esforço.
Professor, deixou marca profunda com as suas aulas e excepcionais capacidades na condução de grupos de trabalho.

Personificou a ponte entre a Educação Nova e as Ciências da Educação emergentes nos anos 60. Foi autor de
vasta obra como investigador e ensaísta, publicada pela Fundação Calouste Gulbenkian.
A sua escrita, de concisão e elegância raras, é fonte de singular prazer estético.

Morreu em 1991, em Lisboa.

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